Políticos, forças de segurança, organizações não governamentais, jornalistas, comentadores de televisão, populistas, progressistas, conservadores e conversadores de café ocasionais. Todos falam da emigração como um fenómeno recente (tal como fizeram com a Pandemia do Covid-19), mas nem todos se encontram conscientes de que tal fenómeno data dos primórdios da criação, ainda antes da humanidade nómada. É pena porque poderiam todos parar de discutir causas de algo que é natural a todos os seres: ir em busca de um lugar melhor para viver e criar a prole.
Ocupação de postos de trabalho a preços reduzidos, competitividade laboral inquinada, aumento de criminalidade, habitações lotadas, ruas cheias de emigrantes, insegurança para os que cá estão, recusa de vacinas e terrorismo religioso são talvez os subtemas que mais se cruzam com este grande fenómeno migratório. E, por um lado, até é bom que se discutam estas realidades que, pasmem-se os populistas, não afectam apenas as pessoas de bem; afectam os dois lados da moeda.
Ninguém fala dos sonhos desfeitos de uma pessoa que se vê obrigada a fugir de um lugar com medo do narcotráfico, dos receios de mudar de país/continente, do câmbio que leva 4/5 das poupanças, da dor causada pela distância das famílias ou da separação entre pais e filhos.
Ninguém fala das exorbitâncias cobradas a título de honorários aos emigrantes para solicitarem autorização de residência e trabalho ou do batelão de taxas e impostos pagos até finalmente um burocrata mandrião achar um buraquinho na agenda para recolher uma foto, a altura, as impressões digitais e a assinatura de um fulano que mal percebe a nossa língua, quanto mais as nossas manhas.
Ninguém fala de como os sucessivos governos e associações patronais (portuguesas, europeias, britânicas e norte-americanas) têm mantido a porta aberta aos que vêm de fora para baixar os preços de determinados sectores comerciais, das quais se destacam os trabalhadores de grandes superfícies comerciais, os técnicos de callcenters, os entregadores de comida ao domicílio e os eternos condenados da restauração e hotelaria.
Ninguém fala de como o respeito e a segurança (física, mental, laboral e social) de um estrangeiro corresponde igualmente à segurança de um nacional.
Tenho para mim que os populistas estão perdidos. Escumalha são, escumalha serão. Falam muito, mas todos nós sabemos o que eles pretendem das instituições democráticas: destruir e reinar.
Já quanto aos conservadores e aos progressistas, creio que ambos se podiam reunir em torno de uma opção geopolítica de grande envergadura com quatro pilares básicos:
1º) Controlar melhor quem entra na nossa casa (será sempre uma essencialidade básica, até por uma questão de cooperação interpolicial e interjudicial);
2º) Criar quotas regionais de entradas migratórias por mês/ano de modo a manter uma identidade cultural portuguesa com tendências por um estado de direito laico e democrático;
3º) Evidenciar esforços (inclusivamente militares) para evitar que tensões geopolíticas escalem para guerras geradoras de refugiados;
4º) E, por fim, forçar os países que adoram fundos de desenvolvimento, reciprocidade de vistos turísticos e extinção de pautas aduaneiras a adoptar com rigor e seriedade medidas bastante reais para evitar que os seus cidadãos (normalmente multiplicados como peixes pelos sermões dos padres…) também deixem de querer sair dos seus países de origem.
A ideia base será que quanto mais alimentados, abrigados, educados, integrados, democráticos e seguros estiverem os nossos vizinhos, mais seguros continuaremos nós. Exigir resultados ao ritmo necessário é fundamental a todos.