Hoje dói-me e talvez o mundo não veja a ferida, mas ela está cá. Pior que chaga, pústula ou trauma há esta aflição geral que se espalha sem motivo conhecido pela minha consciência e depois afecta o resto do meu corpo.
Como uma serpente rateira, ataca-me com o seu veneno durante a noite, quando me sinto em segurança, engrossa-me o sangue com uma letargia peçonhenta e amarra-me a vontade de continuar nesta desconfortável cama.
E não, não quero sair daqui desta cama porque dói levantar-me, porque dói caminhar para o trabalho, porque dói trabalhar, porque dói, porque dói, porque dói apenas e tão só porque dói continuar nesta rotina: levantar, trabalhar, comer, trabalhar, casa, comer, cama, levantar, trabalhar, comer, trabalhar, casa, comer, cama, levantar, trabalhar, comer, trabalhar, casa, comer, cama, levantar, trabalhar, comer, trabalhar, casa, comer, cama, levantar, trabalhar, comer, trabalhar, casa, comer, cama, levantar, trabalhar, comer, trabalhar, casa, comer, cama, levantar, trabalhar, comer, trabalhar, casa, comer, cama, levantar, trabalhar, comer, trabalhar, casa, comer, cama, levantar, trabalhar, comer, trabalhar, casa, comer, cama, levantar, trabalhar, comer, trabalhar, casa, comer, cama, levantar, trabalhar, comer, trabalhar, casa, comer, cama, levantar, trabalhar, comer, trabalhar, casa, comer, cama…
E o mundo vê um sorriso e pensa que está tudo bem, mas não está.
Dói…
Dói…
Dói…
by Masahiro Ito