Nos tempos que correm vimos uma paulatina e generalizada suspensão de alguns dos costumes e tradições mais corriqueiros de todas as civilizações. Um deles foi o mundialmente famoso aperto de mão. Este honrado e honesto gesto foi substituído por uma respeitosa cotovelada.
Ora, o que significava antes deste período tumultuoso uma cotovelada? Eu respondo: significava uma pancada dada com cotovelo e, não nos olvidemos, trazia associado um significado negativo, quase sempre violento.
Mesmo tornando obsoletos os firmes apertos de mão, desaconselhando os carinhosos abraços e repudiando até a suavidade dos beijos ao próximo, o resto do mundo seguiu o exemplo dos chineses da cidade de Wuan.
Ao invés de olharmos para o solene baixar de queixo e dos olhos dos japoneses – este gesto sim com bastante distanciamento social – preferimos o contacto e o toque. Preferimos optar por dar uma respeitável pancada com o cotovelo a uma pessoa que respeitamos.
Sinceramente, a opção por este gesto traduz bastante bem esta nossa natureza humana nos dias que correm.
Senão vejamos, talvez bastante gente errada julgue que cumprimentar alguém (mesmo um desconhecido) não quer dizer nada. Talvez alguns manhosos sejam tão desconfiados que nem sequer gostam de tirar o olho do próximo quando o cumprimentam como fazem os japoneses. E talvez a ânsia pela violência interior de alguns seres humanos nos revele neste gesto um futuro cheio de cotoveladas cruéis.
Será por isto que existem tantas pessoas a insistir nos familiares e seculares apertos de mão? Será que existe uma secreta ânsia para sacudir as gargalhadas das alminhas mais acanhadas do nosso mundo ou para acordar os mais molengões? Não sei…
Só sei que nestes tempos tão desgastantes em termos físicos e mentais, e mesmo eu não gostando de acotovelar ninguém, decidi ver o melhor de nós nestas respeitosas cotoveladas: a humanidade conseguiu transformar algo tão mau como uma cotovelada numa coisa tão boa como um gesto de cortesia, saudação e respeito.