Monthly Archives: Junho 2020

As Cotoveladas da Humanidade

Nos tempos que correm vimos uma paulatina e generalizada suspensão de alguns dos costumes e tradições mais corriqueiros de todas as civilizações. Um deles foi o mundialmente famoso aperto de mão. Este honrado e honesto gesto foi substituído por uma respeitosa cotovelada.

Ora, o que significava antes deste período tumultuoso uma cotovelada? Eu respondo: significava uma pancada dada com cotovelo e, não nos olvidemos, trazia associado um significado negativo, quase sempre violento.

Mesmo tornando obsoletos os firmes apertos de mão, desaconselhando os carinhosos abraços e repudiando até a suavidade dos beijos ao próximo, o resto do mundo seguiu o exemplo dos chineses da cidade de Wuan.

Ao invés de olharmos para o solene baixar de queixo e dos olhos dos japoneses – este gesto sim com bastante distanciamento social – preferimos o contacto e o toque. Preferimos optar por dar uma respeitável pancada com o cotovelo a uma pessoa que respeitamos.

Sinceramente, a opção por este gesto traduz bastante bem esta nossa natureza humana nos dias que correm.

Senão vejamos, talvez bastante gente errada julgue que cumprimentar alguém (mesmo um desconhecido) não quer dizer nada. Talvez alguns manhosos sejam tão desconfiados que nem sequer gostam de tirar o olho do próximo quando o cumprimentam como fazem os japoneses. E talvez a ânsia pela violência interior de alguns seres humanos nos revele neste gesto um futuro cheio de cotoveladas cruéis.

Será por isto que existem tantas pessoas a insistir nos familiares e seculares apertos de mão? Será que existe uma secreta ânsia para sacudir as gargalhadas das alminhas mais acanhadas do nosso mundo ou para acordar os mais molengões? Não sei…

Só sei que nestes tempos tão desgastantes em termos físicos e mentais, e mesmo eu não gostando de acotovelar ninguém, decidi ver o melhor de nós nestas respeitosas cotoveladas: a humanidade conseguiu transformar algo tão mau como uma cotovelada numa coisa tão boa como um gesto de cortesia, saudação e respeito.

 

cotovelo-amigos-cotovelos-ao-ar-livre-pessoas-cumprimentando-juntos-pelo-novo-estilo-para-prevenir-o-coronavirus-nao-aperte-as-maos-estilo-de-saudacao-de-cotovelo_154293-1932.jpg

by Freepik


E Tudo o Fanatismo Levará…

A propósito dos recentes eventos, nomeadamente depois da HBO MAX ter decidido retirar o galardoado filme “E Tudo o Vento Levou” e dos idiotas americanos que estão mais preocupados a atacar a polícia e a derrubar as estátuas de Cristóvão Colombo, apetece-me dizer o seguinte: há fome e miséria, há guerra, há peste e há morte.

Do que estávamos à espera? Que as massas ficassem apenas quietas? Que reagissem com responsabilidade perante a “desorganização” dos nossos líderes políticos? Que exigissem políticas sérias? Tretas…

Nesta altura, a faísca anarca e egocêntrica, que todos os humanos têm, arde com vigor nos mais imponderados e estes não resistem ao seu apelo destrutivo: do próximo (roubos, pilhagens, assassinatos…), das instituições (polícia, governo…) e da própria história (como se alguém idolatrasse as estátuas de Colombo ou de antigos empresários que ninguém conhece…).

E o pior de tudo nem é esta falta de resistência a instintos destrutivos ou dos políticos acéfalos que os tentam legitimar. É a corrupção e a radicalização dos valores de gente que até há umas décadas lutava por algo bastante decente.

Senão vejamos, quem censura o racismo (e bem) censura estupidamente as artes (Hucklberry Finn, E Tudo o Vento Levou…) só porque estas retratam diversos períodos da História. As feministas, que lutam pelos direitos das mulheres (e não pelo direito da igualdade de tratamento), coagem com processos em Tribunal os homens só porque estes as olharam ou as convidaram para sair há décadas atrás. E a comunidade LGBT, em vez de lutar contra a tirania opressiva de estados medievais, vai para as redes sociais atacar e aterrorizar figuras públicas de modo a tentar limitar as suas opiniões e até o humor destas.

Eu, pessoalmente, não tenho pachorra para estes rebanhos e para estas ideologias de falsos rebeldes. Prefiro pensar pela minha cabeça. Contudo, quando a paz em que gosto de viver é suspensa por um bando de gente que apenas tem em mente causar o caos e a destruição, importa recordar que esta escumalha de ideias inquinadas começou como o bando de terroristas que destruiu a Biblioteca de Alexandria, a Escola de Medicina e a Biblioteca de Isfahan, as ruínas de Palmira e tantas outras maravilhas do passado.

“Ah, mas estão a destruir apenas ícones esclavagistas!”, dizem os idiotas sem consciência da inutilidade de julgar a memória de homens de outras eras; que, depois de alcançarem algo bastante importante para a era, morreram com esses mesmos valores da época na mente.

Ademais, e pergunto eu: destruímos o Coliseu de Roma, a Muralha da China e São Peterburgo apenas porque eles foram feitos por escravos e para escravos? E apagamos da memória os terrores e horrores que ali se passaram? É isso que queremos? Destruir os marcos da história humana? Para quê? Para esquecermos e para tornarmos a fazer igual?

É preciso resistir a todos estes terroristas que apenas querem ver o mundo a arder. Não passam de pirómanos e como pirómanos que são impõe-se que sejam presos e condenados. Caso contrário, tudo o fanatismo levará…