Monthly Archives: Novembro 2015

ISIS e o resto

Após o que se passou em Paris na última semana, tenho vindo a pesquisar algumas coisas sobre o Daesh. Pensei eu que se explorasse aquilo que os levava a cometer as inúmeras atrocidades que cometem poderia compreendê-los.

Contudo, não descobri nada que me motivasse a tal.

Retive no entanto quatro ideias:

-Não se matam pessoas apenas por elas acreditarem num Deus dois graus diferente do deles nem se assassinam inocentes qualificados como danos colaterais;

-Não se destrói a História para construir futuros, lê-se a História e atenta-se aos erros cometidos para os evitar e para formar um futuro melhor;

-Se existe algum grande diabo capitalista ou algum tirano fanático e belicista para combater, invoco o filósofo Nietzche: “Acautela-te quando lutares com monstros, para que não te tornes um.”;

-O medo é uma arma poderosa e perigosa, quer de um lado, quer de outro.

Portanto, Conselho de Segurança das Nações Unidas, vocês existem para alguma coisa. Façam uso dos vossos poderes e instiguem uma acção de pacificação na região do Médio Oriente. Esperemos que esses trinta ou cinquenta mil se tenham concentrado todos na Síria e no Norte do Iraque para serem derrotados e julgados à luz das leis dos humanos e não de leis divinas.

Chega de medo, chega de refugiados chega de massacres, chega de atentados à História e chega de xenofobias.

Allahu Akbar, mas se ele não protege os inocentes, então o homem bom que os proteja.


The Flash

Assistindo à série televisiva The Flash, do canal The CW, temos uma boa série sobre um dos super-heróis mais populares de sempre.

Contudo, a série só não é perfeita por dois aspectos.

O uniforme é um pouco estranho, uma série de tv também não tem o orçamento dos filmes, mas acho que um casaco tipo fato-de-macaco e um gorro que quer ser capacete sem o ser não satisfaz minimamente aquilo que um fã do herói está à espera… pelo menos já colocaram um símbolo novo. Pode ser que melhorem o resto.

E depois há a história que é demasiado fiel aos quadradinhos. Sempre achei que alguém que tem o poder de dar a volta ao mundo em meio minuto se devia divertir mais do que é o caso. E Barry é apenas um escoteiro, pior que o Clark Kent de Smallville. O tipo só sai com uma miúda por temporada ao mesmo tempo que não tira os olhos da mocinha dele.

O actor até parece ser um tipo fixe, um tipo engraçado, mas as linhas do roteiro tornam-no numa personagem excessivamente dramática. Está sempre preocupado com o pai e quando finalmente o pai é libertado, pumba, continua na mesma.

Acho que a versão dos desenhos animados fazia mais jus ao personagem do que a esta série.

Imaginem uma Liga da Justiça nestes termos:

– Superman – O Líder

– Batman – O Cérebro

– Wonder Woman – A Heroína da Verdade e da Justiça

– Green Lantern – O Polícia Intergaláctico

– Aquaman – O Rei dos Mares

– Ciborg – O Rapaz Máquina

– The Flash – O Polícia Científico Rápido????

Ora, o triunvirato da DC Comics é aquilo que todos sabemos que é: um triunvirato superpopular que representa o melhor de toda a humanidade, mas sem qualquer tipo de comédia. O Green Lantern, a meu ver, especialmente o Hal Jordan, é demasiado poderoso para uma Liga da Justiça e, ainda que seja um garanhão sem medo, parece-me que não pode ser um mero personagem cómico sem perder alguma da sua substância. O Aquaman é um rei e sentido de humor nos reis é coisa que parece que não calha. É preciso mais seriedade e cinismo num rei, especialmente num rei dos mares.

Portanto, para o alívio cómico que uma equipa destas necessita, precisa-se de Ciborg e The Flash. São estes dois heróis, um pela sua juventude e outro pela sua rapidez, que necessitam de ser os tipos das piadas; aqueles que se riem do Batman sem medo e que fogem do Superman facilmente, com o entreolhar cúmplice dos outros heróis a ajudar.

Cada equipa tem os seus membros mais carismáticos e tem os seus membros mais soturnos. Se fizerem um filme da Liga de Justiça com sete heróis sorumbáticos ou com sete palhaços cómicos dão cabo de um filme que tem tudo para ser um épico.

Que venha o equilíbrio, por favor…

 

 

 


Deuses e Vinho

-Porque é que Baco, o deus do vinho e dos prazeres, não gostaria de ver os portugueses triunfar, senhor Luís Vaz de Camões?

-Bem, porque tinha medo de ser esquecido se os portugueses chegassem à Índia.

-Mas os portugueses adoram beber cerveja, vinho, gin, vodka, whisky e até gasolina se for preciso; adoram mulheres, loiras, ruivas, morenas, asiáticas e o seu amor pelo calor africano foi tão grande que até inventaram o mulato; e, como se não bastasse, tudo o que é fútil e caro, como telemóveis de 700 euros e mercedes de 50 000,00€, os portugueses compram. Como pode Baco não gostar dos portugueses?

-Bem, para dizer a verdade, eu, Luís Vaz de Camões, não pensei muito bem neste assunto…

-Ah bom, Luisinho…


O Poema das Infelizes

Sonhas com um final feliz
Mas falhaste-o por um triz
Julgaste-me, fizeste de juiz,
E agora, sem mim, és infeliz.

A mão presa a outro parceiro
E o resto do corpo prisioneiro
Do medo de não teres o dinheiro
Com que choras no chuveiro.

Casaste rica pensando no futuro
E agora só queres um beijo puro
E um desejo de calor no escuro,
Queres-me a mim que te torturo.

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OS VALORES

Fujo de mim sem fugir deste sítio mal localizado

Em que cada passo civilizado se encontra sem espaço

E quero prosseguir em linha recta, directamente

Para onde vou, mas a seguir, sinceramente,

Piso merda no trajecto, uma bosta de valor correcto

Incorrectamente derrotada pelo prazer do aspecto.

Benditos homoerectos, malditos intelectos

Que nada valem nesta irrealidade física, tão tísica

Com uma moral amoral ou imoral, regulada

Pelo desregulado desejo de seguir para a frente

Sem ninguém ao lado, sozinho e sozinhamente,

Novo advérbio de modo de estar infeliz

Porque o verso da felicidade morreu, é vítima

Mortal deste cinismo pleno de capitalismo,

Para quê evitar esta parte colectiva de mim? Fodam-se

Os valores, venha o guito, venha o pito,

Dar o dito por não dito e já tá tudo dito.


Ambientalistas e Protectores dos Animais

Caros ambientalistas, umas perguntas:

1 – Já alguma vez propuseram uma medida diferente de “parar com a poluição” e “parar de poluir”?

2 – Já alguma vez pararam para pensar nas consequências de simplesmente se pararem as fábricas e se pararem de usar carros?

3 – Por acaso V/Excelências são capazes de viver sem algum produto que as Indústrias inventam?

4 – São a favor da liberalização das drogas “leves”, não são?

Quando os ambientalistas souberem responder a estas questões venham falar comigo.

Quanto aos protectores dos animais, alguns conselhos:

1 – O ser humano é um ser omnívoro; logo só deve matar para comer.

2 – Existem hoje normas que preveem crimes de maus tratos a animais. Isso é uma vitória vossa.

3 – As touradas vão deixar de ser financiadas pelos contribuintes. Mais uma vitória vossa.

4 – Quanto à águia do Benfica e aos demais animais criados em cativeiro, deixem-nos em paz.

5 – Lutem por equilíbrio, não se deixem ser radicalistas.


O critério da verdade

Analisando dois dos filmes mais brilhantes de sempre: Matrix, dos irmãos Wachowsky e The Dark Knight, de Christopher Nolan, dei por mim a confrontar as mensagens de um e de outro:

No primeiro, depois de Neo perguntar se não pode voltar à Matrix e esquecer tudo o que aprendeu sobre a realidade, Morpheus pergunta-lhe o seguinte: Se fosse possível esquecer tudo continuarias a querer esquecê-lo após descobrires toda a verdade?

No segundo filme, após a morte trágica de Harvey Dent, o Batman pede a Gordon para o acusar de todos os crimes do defunto porque as pessoas precisavam de um exemplo de luz a que se agarrar. E às vezes só a verdade nua e crua não basta porque castiga a fé dos bondosos. Às vezes a fé num mundo melhor precisa de ser recompensada, mesmo com uma mentira.

Ora, realidade chocante ou ilusão precisa?


Liberdade e Desejos

Hoje perdi uma tarde a rever o meu filme preferido da Disney: Aladdin.

Não percebo como consegue um filme para “crianças” ter tanta mensagem escondida em pouco mais de uma hora e meia.

Magistral.

Aladdin é um pobre ladrão que, preso à sua necessidade de sobreviver num mundo de pobreza,  sonha em ser rico e ter um palácio para si enquanto a Jasmine sonha livrar-se dos grilhões de deveres legais a que uma princesa está sujeita. Há desde logo aqui uma mensagem sublime: o ser humano nunca está satisfeito e deseja sempre algo mais.

Pouco depois, Aladdin vira príncipe para conquistar uma princesa e só percebe que não lhe adianta de nada ser um príncipe se não puder ser a pessoa que realmente é: um diamante em bruto. Do mesmo modo, Jasmine tenta fugir do palácio para deixar de ser princesa e logo percebe que não pode ser quem não é (sob pena de lhe cortarem o braço por dar  uma maçã a quem tem fome).

Importantíssima a revolta de Jasmine. Enquanto princesa e filha do sultão de Agrabah, e portanto uma princesa árabe, transmite também a mensagem sublime que ninguém pode obrigar ninguém a casar com ninguém. Portanto, a liberdade de constituir família pertence ao coração dela e a mais ninguém. Talvez os patriarcas e as matriarcas deste mundo que ainda encaram as filhas como suas devessem ver este filme.

O Génio da Lâmpada, ser de poder cósmicos, está confinado a uma pequena lampadazinha e depende da vontade do seu amo para deixar de ser escravo. Mais uma mensagem sobre liberdade.

O próprio Jafar desespera pela subordinação que deve ao seu sultão e o papagaio Iago é mais um seguidor masoquista daqueles que suporta tudo do seu amo e mais as bolachas odiosas que o sultão lhe enfia pelo bico a dentro. Os anseios de Jafar por poder são tão grandes que ele próprio se torna escravo por sua livre e espontânea vontade. Nova mensagem sobre a liberdade: às vezes tornamo-nos escravos a partir daquilo que desejamos.

No final, vemos a inteligência a fazer sucumbir os poderes malditos de Jafar e vemos o conflito de Aladdin entre ser um príncipe para poder casar com Jasmine e o facto de ter o poder de libertar um ser duma vida de cativeiro. Egoísmo versus altruísmo; amor egoísta versus amor altruísta.

Linda a escolha de Aladdin.

Claro que existem ainda mais mensagens escondias: a ganância de Abu face ao acto de Aladdin dar a metade do seu pãozinho a duas criancinhas esfomeadas, a ganância de Abu por um diamante que quase lhe custou a vida, a traição vil de Jafar lhe custar a Lâmpada do Génio e a ingenuidade do sultão face ao seu conselheiro mais próximo… mas são tão evidentes que uma pequena referência basta.

Vejam este filme e revejam-no uma e outra vez. É impressionante assistir com olhos mais maduros a esta obra-prima e perceber que desde pequeno que tenho gosto por este tipo de mensagens. Mais, quando acharem que filmes como Django e afins representam algum tipo de luta contra a escravidão, voltem a Aladdin e vejam a linha que separa uma obra magistral de uma obra de violência gratuita.

aladdin