Estás cega? Não vês que me sufocas com o tanto que as tuas mãos me apertam e os teus braços me seguram? Tens medo? Sim, talvez tenhas medo daquilo que não controlas e talvez teu maior medo seja mesmo o de não me poderes controlar. Contudo, desculpa-me: não aguento perder mais um segundo aqui contigo! Tudo aquilo que pensaste que eu podia ser caiu do céu e morreu na terra, tal como a primeira pessoa do plural morreu contigo e bem à tua frente!
E porquê?
Porque estou cansado de ser o que queres que eu seja! Porque estou cada vez mais descrente nisto nosso que já não é bem nosso! Porque me afoguei perdido neste mar agitado e voltei à tona boiando ainda mais perdido! E, por fim, porque não sei o que esperavas de mim ao exigires-me com tanta força para que seguisse caminhando com os teus sapatos, com as tuas botas e desfilando até dentro das tuas saias.
E o pior?
O pior é que cada passo que dava era só mais um passo errado noutra direcção, um trilho enganado ou certamente um fado equivocado e sem sentido. Errei, em ti, tantas vezes que meu erro se tornou indiferente e nessa indiferença de erros rotineiros me indiferenciei de ti até ao ponto de se me esgotar o excessivo tanto que amava em ti. Finalmente, um pouco mais em mim, despertei ciente do que era realmente preciso: ser menos como tu, ser mais como eu.
Vou falhar?
Sim, eu sei que posso acabar falhando também. Sei que posso cair num buraco, pisar uma armadilha ou mergulhar num abismo ainda mais profundo que este. Todavia, por favor, não ignores que és apenas como eu: um alguém com outro alguém tremendamente desapontando, francamente desiludido e agradavelmente desenganado.
Estou diferente?
Não, estou apenas… indiferente!

Mind Devour by Sebastian Eriksson