Quando éramos crianças, o arco-íris tinha sete cores,
Mas parece-me hoje que ele perdeu alguma tira de cor
Ou será apenas a névoa que ficou mais forte?
Talvez o tempo tenha passado e mudado o arco-íris
Tal como me mudou a mim, mas não mudou o facto de
Eu continuar apenas à tua procura e
Continuar a não te encontrar em lugar nenhum.
Fecho os olhos, olho para dentro,
Escuto o bate-bate do meu coração ecoando o teu nome,
Uma e outra vez, uma e outra vez, e
Peço-lhe com cuidado que aguente até te conseguir ver novamente,
Esperando igualmente que, ao contrário de mim, nada te tenha mudado…
Nem mesmo o tempo neste moribundo mundo cinzento,
Com esta maldita névoa que desaparecerá algum dia e,
Como deveria ser, devolverá o que nos roubou.
Em seguida, esbracejo e grito de tanto vazio que aqui vai
Enquanto por dentro se desarrumam, caóticas e sem ordem,
Uma data das mais desconsoladas questões:
O que perdi? O que perdemos?
Será que ainda te posso dar mão?
Ou será que já tens as mãos fechadas para mim?
Não sei… só sei que vai escurecendo a névoa.
A noite entrevada vai esbulhando, à vez, cada matiz do incompleto arco-íris e
Quando, finalmente, as trevas o apagam por completo do céu,
Envolvo-me no negrume, sozinho com os meus passos e
Só com uma gélida sinfonia: a dos pingos da chuva caindo e
A das minhas lágrimas castanhas escorrendo cheias dúvidas:
E se eu não tivesse vindo por aqui?
E se eu tivesse tomado outro caminho?
Abrando… e abrando porque não quero chegar ao fim desta ponte sem ti
Quero encontrar-te antes do final deste passadiço em que vou caminhando e
Quero encontrar-te bem, inteira, perfeita, raiando luz,
Talvez trazendo as sete nuances que faltam ao arco-íris no sorriso,
Talvez pronta a abraçares-me com carinho e,
Só depois, beijamo-nos e beijamo-nos e beijamo-nos
Até, já cansados de beijos, devolvermos juntos as setes cores que faltam ao céu.

by kevinflemming88