O Feiticeiro e a Bola de Cristal
A Torre Negra – Livro 4
De Stephen King
Antes de mais, a seguinte análise tem alguns pontos que tocam a história pelo que:
»»ALERTA SPOILERS! ALERTA SPOILERS! ALERTA SPOILERS! ««
A série Torre Negra começou com um pistoleiro solitário em busca de um feiticeiro de manto negro e só nos livros seguintes é que o autor veio a introduzir o pequeno grupo unido pelo mesmo destino: o ka-tet. Todavia, para além do início (que deveria ter feito parte do clímax d’As Terras Devastadas) onde o pequeno grupo trabalha para vencer um comboio alucinado e perigoso, este livro é sobre o último dos pistoleiros: Roland Deschain, de Gilead antes do mundo avançar e ele passar a ser o último dos pistoleiros buscando a Torre Negra.
Entrando um pouco na história: após a pequena façanha de Roland ao vencer Cort, tal como relatado no primeiro livro da saga – um feito que lhe valeu as suas duas pistolas e fez dele o pistoleiro mais jovem de que há memória -, Steve Deschain decidiu que Gilead era um local demasiado perigoso para o seu filho. Assim, o jovem pistoleiro foi enviado para a aparente segurança do Baronato de Mejis com os seus dois melhores amigos: Cuthbert Allgood e Alain Johns.
Ou seja, através de grandes analepses – fazendo lembrar um pouco a forma narrativa utilizado no primeiro livro, ainda que não tão boa – Roland conta ao ka-tet a sua primeira missão enquanto pistoleiro no Mundo Médio.
Pessoalmente, um livro inteiro (ou quase inteiro, vá lá!) contando o passado de um dos protagonistas é algo que criativamente não me fascina por aí além. E quando esse passado pouco ou nada faz pela história em si, especialmente no seu final, menos ainda me agrada. Claro que tais flashbacks podem sempre vir a ter relevância nos seguintes volumes da obra. Caso isto aconteça, fica sem efeito este último parágrafo e suas palavras… e umas grandes desculpas dirigidas a Stephen King.
Mas vamos lá ver! O livro continua interessante. A história de Roland é toda ela demasiado interessante para que um certo modo de a contar faça perder o seu encanto. Logo, não posso dizer que não gostei. Fiquei até a gostar ainda mais desta personagem e de algumas outras neste livro introduzidas.
Por exemplo, Cuthbert, ainda que bastante parecido por vezes com Eddie, é ainda assim bem diferente e bem trabalhado. Por outro lado, Rhea de Cöos, a verdadeira vilã deste livro, assusta um pouco com a sua língua quase bifurcada, com os seus nojentos animais de estimação e uma certa fixação por uma bola que presumo ser importante para a história. Nota para o pateta Sheemie, que é a personagem que mais se assemelha a Oi (isto claro se Oi fosse uma pessoa pateta e não um sagaz billy-bumbler). Finalmente, uma honrosa menção para o caído Eldred Jonas (Se o tipo não foi inspirado em Sam Elliot então eu sou parvo…) e outra para uma pequena característica de Alain: o Toque – habilidade com algum potencial a ser desenvolvido.
Quanto à história de amor entre Roland e Susan Delgado… é normalíssima: Forasteiro conhece menina prometida (e pouco interessante, diga-se) e os dois juntos pegam fogo… juntos não, mas isso melhor explicado fica para a história em si.
Há ainda tiro e pistolada para todos os gostos, uma pequena revelação acerca de um determinado feiticeiro obscuro e mais um grande e enormíssimo erro de Roland revelado: um dos mais pesados e capaz de rivalizar com o pecado do primeiro livro…
Assim, e no geral, há bastante história para quem, como eu, queria conhecer mais do último dos pistoleiros. Sinto, no entanto, o enredo a perder força com tanto (e às vezes tão pouco…) do passado do pistoleiro revelado e com tão pouco avanço na demanda pela Torre Negra.
PS: Não sei se faz parte do livro original ou se foi apenas um erro de edição (algo em que não acredito particularmente), mas que porra foi esta ideia de colocarem o epílogo d’As Terras Devastadas como prólogo d’O Feiticeiro e a Bola de Cristal? Claro que passei logo à frente… algo que só me veio dar razão acerca da minha opinião sobre o mesmo capítulo: óptimo gancho, mas não para fim de obra.
By Bertrand